Na sua essência, vibrar na flauta transversal ou noutro instrumento de sopro é semelhante, contudo é verdade que devido à embocadura livre da flauta, a natureza do fenómeno vibratório ganha outra profundidade. Tal como na imagem, a gota de água (o ar) cria um impacto (transitório de ataque, articulação), ela gera as ondas que se extinguem logo depois. Vibrar ou fazer vibrato pretende designar a técnica que nos permite alimentar essas ondas, de modo a que não se extingam. Vibrar é sobretudo uma ferramenta expressiva, afinal, ninguém gosta de ouvir muito tempo uma sirene ou um som senoidal (sinusoide ou onda sinusoidal, em Portugal). Experimente aqui.
- Tudo à nossa volta vibra, a temperatura é a escala de medida deste fenómeno pelo sentido do tacto. A face audível do fenómeno é medida em Hertz (Hz). Temos vibrações mecânicas (som) e electromagnéticas (espectro) e embora sejam tipos de vibração distintas é possível criar uma relação de simpatia entre elas. O planeta Terra e o Sol também vibram, com ruídos semelhantes aos produzidos por subestações eléctricas ou cabos de alta tensão:
- Imagine agora que muitas outras interferências se juntam, misture-se bem e cá tem a vibração da Vida, com a Ressonância de Schumann (7,83Hz) à cabeça. Sem ela a Vida como a conhecemos definha e agoniza.
- O bom vibrato que buscamos ao tocar música é a frequência variável que nos religa a este padrão planetário de vibração. A razão porque nos soa melhor é porque, ao entrar em ressonância com semelhante frequência atmosférica, tudo nos parece mais fácil, mais poderoso, mais profundo. E é, ainda que não possamos realmente ouvir a Ressonância de Schumann, o nosso corpo está profundamente sintonizado para ela e todos os seus harmónicos, tal como está o canto das cigarras numa noite de verão (ver mais em: Respiração e estados de consciência).
- Embora a vibração seja um fenómeno natural e espontâneo, uma parte da vibração ou oscilação é iniciada pelos constituintes do som (harmónicos e sons diferenciais). As dificuldades do aprendiz em vibrar têm a ver com o excesso de tensão na emissão do som, o que cria um som pobre de harmónicos. A pressão do corpo contra a flauta absorve-os e substrai energia ao som produzido.
- Alimentar o vibrato requer o relaxamento do executante, em especial nos pontos de contacto com o instrumento, tem-se uma sensação de levitação do instrumento entre as nossas mãos. Contudo, as mãos e os braços não relaxam sem que todas as articulações do corpo façam o mesmo. Os harmónicos e o vibrato por eles gerado fica assim no som da flauta, dando mais robustez ao som. Repito, o aprendiz tem habitualmente dificuldade em vibrar, quando há tensão nas mãos, dedos, lábios e anexos faciais.
- A outra parte da vibração é o fluxo variável do ar que emitimos para a flauta, esta variação é induzida pelos constituintes e a amplitude é modelada a gosto pelo executante (imagem em baixo), de modo a servir propósitos expressivo-musicais.
- O tamanho do som depende da inércia criada por cada vibração e do somatório da sua ressonância, muito à semelhança do feedback num microfone/coluna de som. O tamanho do som não depende assim tanto da força directa da coluna de ar (o que tende a enganar a percepção do aprendiz). Forçar a embocadura, assoprar com mais velocidade o ar apenas gera um nível crítico e instável, onde o som falha ou estrangula.
- Tudo no universo tende a manter o equilíbrio orbitando em redor de um ponto e não permanecendo imóvel, daí o fenómeno da vibração. A imobilidade é mera aparência, qualquer sistema só relaxa quando internamente é dinâmico, o universo vive de paradoxos, de outra forma, a tensão exterioriza-se e um ponto crítico é atingido, perdendo-se todo controlo. O mesmo se passa com a postura do flautista, o seu relaxamento e respiração.
Forçando o vibrar, a vibração
Tenho visto este assunto mal tratado, que fique esclarecido, não tende parecer aquilo que não é, só terá complicações.
O que é afinal o vibrato?
Vibrar é o efeito ou resultado, a consequência de algo, será algo equivalente à reflexão de um espelho.
Repare, sentir a vibração de alguém é detectar a onda da pessoa, como se essa sensação nos informasse antecipadamente sobre o "emissor", de facto, está provado que somos seres electromagnéticos, produzimos luz 1000x inferior à nossa percepção visual, assim como produzimos calor (infravermelhos).
A nossa vibração é o reflexo do nosso estado energético (saúde) mas também reflecte o estado do tocador ou performer. Uma verdadeira marca individual, bem mais complexa que a impressão digital.
Expressão de si mesmo
A expressão de si mesmo é uma necessidade universal, é tão variada quanto o nível energético de cada um, há pessoas que se expressam de uma forma adequada à exposição sobre um palco, outros não tanto, cada um está na sua rota de vida. Para alguns, subir a um palco é algo tão terapêutico quanto para outros é uma pica por chocolate ou a subida ao Everest. Uns equilibram-se com o palco, outros com o Evereste, outros ainda, com chá quente!!! Temos que buscar o que precisamos, não o que nos dizem que precisamos, para isso, é preciso que nos conheçamos a nós mesmos. É comum misturar a moda e a fama, o reconhecimento social ou financeiro com o que realmente as coisas significam para cada um. Há coisas que podemos querer e outras que só podemos sonhar. Somos todos diferentes, porque raio tentamos ser todos iguais?
Vibrar é universal, é a música dos céus e das esferas, cada ser possui uma "pressão intrínseca" no seu Ser, poderemos falar em conflito energético, os gregos falavam na predominância dos elementos Terra, Água, Ar ou Fogo, curiosamente este último elemento é o que mais é expresso em palco e o que tem mais relação com a identidade do Ser. Aprender a vibrar, forçando aquela que é a nossa própria onda, pela adopção de modelos que pouco nos dizem respeito, leva-nos ao risco de distorcer o Todo psicomotor específico a cada indivíduo, algo que nos suja a energia do viver, o nosso sentir da vida.
Praticar um estudo de vibrato que nos leve a algo pensado, algo artificial a nós, rígido que para além de custoso nunca será eficaz ou vivenciado com prazer, esse vibrato não nos representa nem nos reflecte, é impessoal e nunca resultará nem para si nem para o ouvinte. Expressar é brilhar de acordo com a nossa chama interior, de outro modo, somos consumidos rapidamente. Entende agora porque nos inspiram os grandes intérpretes?
Vibração é sintonia, surge naturalmente num sistema equilibrado, conhecer-se a si mesmo (identidade) deve ser a sua busca, é a fonte da sua magia e brilho, uma eterna dança de desequilibro dinâmico, onde a contenção determina a diferença entre um estado de equilíbrio/desequilibro efectivo.
Sem auto-estima, qualquer expressão (expansiva) é uma tortura. Como pode você vibrar, se no seu interior não há uma chama intensa, ou seja, alguém que se conhece, tem confiança em si e uma boa auto-imagem. Precisamos ser o melhor de somos, essa é a busca fundamental.
- Apreciar e tirar prazer da nossa capacidade de contenção é a "caixa de velocidades" de um tocador.
- A sua coerência (auto-reforço) é o motor, a sua potência é tanto mais elevada quanto maior a Vontade, não a que quer ter, mas a que lhe é própria ao Ser. Sabe qual o sentido da sua vida?
- Depois, seja simples e o segredo está em encontrar o caminho para que nos integremos no Universo. Escute, cada emoção, sentimento e estado de alma tem a sua vibração - Você tem uma história para contar!!!
gostei do seu artigo, parabéns!
ResponderEliminarVerdadeiro poeta, belíssimo.
ResponderEliminarMaravilhoso tudo isssssssoooooo aki sejam abençoados ! ! ! !
ResponderEliminarOlá,
ResponderEliminarAcessei este post esperando encontrar outro tipo de relato, algo mais técnico talvez. Mas acabei surpreendido. De forma positiva! Todas as observações realmente dão sentido a uma boa vibração. Agradecido pelo trabalho!